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Em Maio de 2014, o governo português anun-

ciou a conclusão do programa de resgate da

troika

. Iniciado três anos antes, este programa

representou para Portugal um aprofundamento

da abordagem à crise baseada na austeridade e

na “desvalorização interna” adotada pelo seu

governo desde Maio de 2010, em conformida-

de com as resoluções das instituições europeias.

Ao longo de três anos de implementação, o

programa foi objeto de uma apertada monitori-

zação trimestral. No entanto, estranhamente,

uma vez concluído, nem o governo português,

nem o FMI, nem a União Europeia, nem o Banco

Central Europeu, promoveram a sua avaliação

cuidada, à luz de uma comparação entre os

seus objetivos e os resultados produzidos.

As páginas que seguem não pretendem ser

mais que um esboço do que poderia e deveria

ser uma tal avaliação e do que dela poderia re-

sultar. Essa avaliação deveria partir da identifica-

ção dos objetivos do programa de resgate e da

lógica que lhe está subjacente, para chegar aos

resultados obtidos e à confrontação desses re-

sultados com objetivos e previsões.

Começamos, portanto, neste breve balanço,

por resumir o diagnóstico do FMI e os objetivos

do programa de resgate tal como eram apresen-

tados no memorando firmado em 2011. Uma

vez que qualquer avaliação envolve uma seleção

prévia das dimensões relevantes que depende

de critérios e opções valorativas do avaliador,

decompusemos o exercício de que se segue em

dois momentos: um primeiro, em que que os

resultados do resgate são julgados na ótica dos

critérios do próprio programa, e um segundo,

em que são consideradas outras dimensões,

omitidas ou subestimadas pela troika, mas não

pouco importantes.

Os objetivos e a lógica do resgate

português

O programa de resgate baseava-se num diag-

nóstico que enfatizava o agravamento dos de-

sequilíbrios da economia portuguesa após a

adesão ao euro. De acordo com o FMI

1

, a queda

substancial das taxas de juro, associada à ado-

ção do euro, provocou uma significativa apre-

ciação real, criou desequilíbrios orçamentais e

1

 FMI (2011).

Request for a Three-Year Arrangement Under

the Extended Fund Facility

. IMF Country Report No. 11/127.

Portugal 2014: as

consequências de um resgate

Manuel Carvalho da Silva, José Castro Caldas, João Ramos de Almeida