EL ESTADO DE LA UNIÓN EUROPEA
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Na realidade, a direita política no governo e as
elites económicas internas e externas adotaram
o programa, apropriaram-no, fazendo dele um
instrumento para a reconfiguração da econo-
mia política portuguesa.
A pretexto da necessidade de consolidação
orçamental foi operada uma retração da provi-
são pública nos domínios da saúde, da educa-
ção e das pensões que criou, sobretudo por via
da subcontratação de serviços, novas oportuni-
dades para expansão da provisão privada. A
pretexto da necessidade de infletir a dinâmica
de crescimento insustentável da dívida pública,
foi praticamente concluída a privatização do
sector público empresarial. A pretexto da neces-
sidade de conter o crescimento das despesas
em prestações sociais, substituíram-se políticas
sociais de natureza solidária e emancipatória,
por uma rede de prestação de apoio social de
natureza assistencialista, baseada em institui-
ções associativas de solidariedade social. A pre-
texto da necessidade de combater o desempre-
go e recuperar a competitividade, esvaziou-se a
legislação do trabalho de mecanismos cruciais
de proteção dos trabalhadores e de instrumen-
tos que lhes permitiram negociar coletivamente
salários e condições de trabalho.
O resgate constituiu o impulso que a direita
política e as elites económicas internas e exter-
nas necessitavam para reconfigurar um Estado,
uma economia e uma sociedade, em que ainda
estão presentes e vivos frutos que a Revolução
de 25 de Abril de 1974 havia semeado. A direi-
ta política e as elites económicas, incapazes de
obter por sufrágio democrático um mandato
para a essa reconfiguração, aproveitaram o me-
lhor que puderam a oportunidade criada pelo
estado exceção.
O resgate não resolveu nenhum dos proble-
mas estruturais da economia e da sociedade
portuguesa, nem a desendividou. Empobreceu
o país e os portugueses, precarizou o trabalho,
agravou as desigualdades, empurrou os mais
jovens para a emigração. Essas são as conse-
quências mais visíveis do resgate. Mas, na reali-
dade, além das feridas mais visíveis há outras
mais profundas feitas de desesperança, de falta
de confiança na viabilidade de alternativas, de
suspeita acrescida nos políticos e na política,
porventura ainda mais corrosivas e difíceis de
curar.