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EL ESTADO DE LA UNIÓN EUROPEA

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–fraca competitividade, défices orçamentais in-

sustentáveis e elevado endividamento do sector

financeiro e empresarial– foi resolvido. Isso mes-

mo é praticamente reconhecido pelo FMI na sua

avaliação pós-programa. No entanto, longe de

propor uma mudança nas políticas, o que o FMI

tem a sugerir é apensas o que propôs antes:

mais consolidação orçamental e ainda maior re-

dução dos “custos salariais”.

As consequências sociais e políticas do

resgate

Se nas dimensões que o FMI valoriza as conse-

quências do programa são no mínimo contradi-

tórias, em aspetos que o FMI subestima os seus

resultados podem ser resumidos em três pala-

vras: empobrecimento, desigualdade e emigra-

ção.

O empobrecimento da sociedade portugue-

sa, atribuível sobretudo ao desemprego, à redu-

ção dos salários e à desproteção social, surge já

claramente refletido nas estatísticas oficiais. O

inquérito às condições de vida e rendimento re-

alizado anualmente pelo Instituto Nacional de

Estatística revela que a percentagem das pesso-

as que estavam em risco de pobreza subiu de

18,1 %, em 2010, para 19,5 %, em 2013

3

. O

aumento do risco de pobreza atingiu todos os

escalões etários, mas sobretudo as pessoas com

menos de 18 anos. No caso das crianças passou

de 22,3 %, em 2010, para 24,4 %, em 2012, e

para 25,6 % em 2013. O empobrecimento é

3

 Este indicador tem a limitação de ser sensível à evolução

da mediana do rendimento. Se o expurgarmos do efeito da

variação da mediana, ancorando o indicador aos valores de

2009 o aumento da percentagem de pessoas em risco de

pobreza seria muito superior: de 17,9 %, em 2009, aumen-

ta para 25,9 %, em 2013.

confirmado pelo agravamento dos índices de

privação material. Em 2011, 20,9 % dos resi-

dentes em Portugal viviam em privação material

e 8,3 % em situação de privação material seve-

ra. Em 2014, estas taxas passaram, respetiva-

mente, para 25,7 % e 10,6 %.

O desemprego é a principal causa do empo-

brecimento. Se, em 2010, 36 % das pessoas no

desemprego estavam em risco de pobreza, essa

percentagem passou para 40,3 %, em 2012, e

para 40,5 %, em 2013. Mas a situação da popu-

lação com emprego também se degradou. A taxa

de risco de pobreza para os empregados passou

de 10,3 %, em 2010, para 10,7 %, em 2013.

A “desvalorização interna” inscrita no me-

morando traduziu-se numa efetiva desvaloriza-

ção do trabalho e na transferência do rendi-

mento do trabalho para as empresas. As

medidas de cortes salariais no sector público, ao

servirem de referência para o sector privado, fo-

ram percursoras de um processo que iria atra-

vessar toda a sociedade portuguesa.

Em Abril de 2011, o salário médio situava-se

em 962,9 euros. Em Abril de 2014, a remunera-

ção média havia descido para 948,8 euros.

Apesar do congelamento do valor do salário

mínimo nacional em 485 euros, o número de

trabalhadores abrangidos pelo salário mínimo

passou de 10,9 % dos trabalhadores, em Abril

de 2011, para cerca de 15 % em Abril de 2014.

A desvalorização do trabalho, decorrente do

aumento do desemprego, mas também de alte-

rações da legislação do trabalho orientadas para

a redução dos “custos salariais” das empresas,

operou uma redistribuição regressiva de gran-

des proporções

4

.

4

 Ver Reis, José (coord.) (2014).

A Economia Política do

Retrocesso: Crises, Causas e Objetivos.

Observatório sobre

Crises e Alternativas. Almedina, Cap. 3.